Música

Não pode existir alegria maior que a de perceber que nós podemos, ainda, chegar a resultados incríveis a partir de faculdades que dormem em nós

Walter Howard

Todo ser humano carrega música dentro de si: os batimentos cardíacos; o som da circulação sanguínea; os sons corporais; a capacidade intrínseca de movimentar-se espontaneamente diante de diferentes estímulos sonoros.

Com a música dançamos, com a música sonhamos, ela encanta ou agride nossos ouvidos e nossa mente. Influi em nossos sentimentos e revela nossos instintos. Nenhuma das faculdades humanas está imune à música. Criada pelo homem e dirigida por ele a música está intimamente ligada à vida.

Na música os sons, os timbres, as cores, os silêncios, os acentos, os tempos, os fenômenos físicos e dinâmicos do mundo sonoro encontram-se combinados, ordenados, superpostos, medidos e são informados à mente criadora que lhe confere sentido, direção e significado, fornecendo à obra musical uma individualidade.

Não são as notas da valsa ou do rock, tecno etc. que fazem o corpo querer dançar, mas a relação que existe entre as notas. A música é a relação entre os sons e não o próprio som, qualquer que seja o grau de artifício e de complexidade de sua sucessão. As moléculas vibrantes que transmitem a música de uma orquestra para nossos ouvidos não contêm sensação, apenas padrões. Quando o cérebro modela esse padrão, surge a sensação. Um único som, para ser ouvido, percebido, discriminado e compreendido, ativa uma grande quantidade de neurônios e sistemas complexos em todas as regiões cerebrais. Atividades que utilizam música de forma sistemática, organizada, com funcionalidade e intenção aumentam, portanto, o potencial cognitivo.

Compreender e fazer música, ou mesmo utilizá-la em intervenções psicomotoras é primeiro propor-se a perceber as relações que existem entre os sons, entre os intervalos e ajudar a criança, o jovem ou o adulto a perceber também. Para isso é importante ESCUTAR música e não simplesmente OUVIR.

Neste caso, em primeiro lugar vamos definir as diferenças:

  • Ouvir é perceber o som através do ouvido. A tarefa da orelha é simplesmente amplificar o som para levá-lo ao canal do ouvido. Podemos, então, ouvir inúmeros sons sucessivamente.

  • Escutar é colocar atenção nos sons ouvidos e estabelecer relações entre eles. Ao mesmo tempo e consequentemente de forma mais rica, estabelecer correlações entre os sons, as ações, a história pessoal de cada um, as emoções etc.

Em nossa prática profissional, portanto, o primeiro passo é oferecer estímulos que permitam ao participante escutar os sons ao redor. Esse é o foco da utilização da música na clínica psicomotora: a educação da escuta ativa, ou seja, não apenas escutar música, mas, pensar e separar as partes que a compõe, classificando os sons utilizados, ou seja, atuar sobre ela, com ela e por ela.

Para se aprofundar
Bibliografia